Odisséia Digital
A digitalização da produção cinematográfca já é uma realidade. Mas a da exibição caminha lentamente, por uma série de motivos. Em mensagem recente, postada em uma lista sde discussão sobre cinema, Carlos Klachquin aborda o assunto de forma didática. O texto é grande, mas vale a pena ler com atenção.
"Devido a fatores econômicos, tecnológicos e de políticas de mercado, claramente estão se formando duas avenidas.
Uma de elas, é chamada de "cinema eletrônico" (E-cinema) que é a avenida da Rain. A outra, é o chamado "cinema digital" (D-cinema), este último o único que as "majors" vão adotar..
Em forma grossa e a primeira vista, com trocadilho, a diferencia está na resolução da imagem. Acima de 1080 linhas começa o chamado D-cinema.
Mas há outros aspectos relacionados com exigências de segurança do conteúdo, de confiabilidade dos equipamentos e capacidade de fluxo luminoso, que determinam escalas bem diferentes nos investimentos necessários. E esta escala, nos termos atuais, no que respeita ao projetor, pode ser em torno de dez vezes.
O E-cinema é utilizado nos Estados Unidos nas salas convencionais de 35 mm como um auxiliar para anunciar a empresa exibidora antes da sessão principal com luzes semi acessas, quando o público está ocupando a sala (uma curiosidade: Quase não se projetam comerciais, já que exibidores desejam oferecer ao público uma experiência o mais distante possível do modelo da TV. Nos Estados Unidos, os comerciais na TV ocupam muito maior tempo do que nos suportamos aqui) .
Na China e na Índia existem alguma centenas de salas de E-cinema, mas sempre como um canal alternativo de distribuição. (Nota minha: aqui no Brasil, o pessoal Microcine Bonsucesso segur este caminho).
Já Hollywood pensa de outra maneira. O critério é que em forma absoluta, cinema deve ser uma experiência totalmente diferente. Assim, a qualidade da apresentação da imagem e do som no cinema deve estar bem à frente de quaisquer outra alternativa.
Isto é essencial para poder criar envolvimento no espetáculo e sedução pela experiência sensorial, mais do que pelo conteúdo. Este é um conceito básico nesta filosofia, e do ponto de vista da bilheteria não parecem estar errados.
Por outro lado, a força motriz econômica da indústria do cinema está nas mãos de estas empresas. Ou seja que são eles quem decidem. Existe um comitê que está delimitando as exigências do D-cinema, o DCI, (Digital Cinema Iniciative)
que é formado por Time Warner Inc , The Walt Disney Co (DIS.N), Viacom Inc (VIAb.N), News Corp Ltd (NCP.AX), General Electric Co (GE.N), Sony Corp (6758.T) e
Metro-Goldwyn-Mayer Inc (MGM.N). Alguns padrões já estão estabelecidos, e outros ainda em discussão.
O D-cinema tem um grande obstáculo comercial na frente. Quem deve fazer o investimento é o exibidor. A vantagem é para o estúdio ou produtor, por causa da economia nas cópias. Este é o entrave principal.
Mas a distribuição não é de graça, seja satélite, hard disk ou conexão física. Mas sem dúvida o custo e menor que o da cópia de 35 mm. Existem alguns modelos de negócios sendo discutidos, como a dos estúdios bancar o custo das novas instalações. Mas a nossa indústria, a nível mundial, na evolução das relações comerciais ao longo de 109 anos, criou áreas de poder muito bem delimitadas, que em cada solução possível para o D-cinema serão afetadas. Imaginem só o que pensará um distribuidor sobre o modelo de cinema digital , se o conteúdo viajará por um cabinho.
Qual será a parte da fatia que ficará para ele ? E se os estúdios pagam pelas novas instalações nos cinemas, a propriedade e o direito de escolha do exibidor ficará condicionado de alguma maneira.. Os estúdios se tornarão mais poderosos. (...)"